Wellington Nogueira, fundador do grupo que reúne palhaços profissionais treinados para visitar crianças hospitalizadas, fala da importância do humor no cotidiano
Por: Francine Moreno
Andrea Goldschmidt/Divulgação
Wellington Nogueira, fundador da Doutores da Alegria, ONG criada nos anos 1990 que se dedica a organizar visitas de palhaços a crianças hospitalizadas, vai desembarcar em Rio Preto neste sábado, 4. Por aqui, o ator, palhaço e empreendedor vai coordenar o workshop Palhaços em Hospitais: Um olhar para o Futuro!, das 9 às 17h, no hospital Bezerra de Menezes. O evento contará ainda com roda de conversa e dinâmicas com o ícone da humanização hospitalar do Brasil.
Durante sete horas, Nogueira vai apresentar um conteúdo atual sobre as perspectivas em relação ao trabalho de palhaços em hospitais. O evento é uma iniciativa da Cia. de Teatro Social Sementes da Alegria, associação que realiza um trabalho semelhante ao dos Doutores da Alegria, há mais de 10 anos, em vários hospitais de Rio Preto. A inscrição custa R$ 25 e os participantes receberão certificado de participação.
Nogueira afirma que sua trupe distribui, hoje, risadas e piadas para pacientes hospitalizados em 20 hospitais públicos de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, e afirma que trabalhar com os Doutores é trabalhar com o futuro. “A gente não faz showzinho para as crianças. A gente trabalha com o que elas nos dão. O nome disso é cocriação. Nosso trabalho não é negar a doença, mas conectar com o lado saudável. Hoje, a gente está vendo que isso é uma base para se viver sustentável. Não nega o problema, mas destaca o que está bom. Por isso, preciso promover workshops para compartilhar boas ideias e criar uma rede de compartilhamento e de parceria”.
Esta não é a primeira vez que Nogueira desembarca em Rio Preto. O artista já ministrou uma palestra no Sesc e já participou de um encontro com palhaços. Voltar à cidade, segundo ele, é uma celebração. “Rio Preto e região têm um trabalho especial com palhaços em hospitais e grupos que exploram a arte do palhaço”. Uma parte destes artistas locais integra o programa Palhaços em Rede, iniciativa criada pelos Doutores da Alegria para articular uma rede de relacionamento e cooperação entre diferentes grupos e indivíduos que utilizam a figura do palhaço para atuar sistematicamente com pacientes.
Desde 2007, o Palhaços em Rede tem foco na qualidade da intervenção que é oferecida nos hospitais. Por meio de diálogos e encontros, reforça a identidade e a vocação de cada grupo, propondo reflexões, especialização e práticas dentro da linguagem do palhaço. “O programa foi criado porque havia muitos palhaços trabalhando inspirados na gente, mas sem uma orientação direta. A ideia foi acolher esses grupos. Nós temos consciência de que nós não somos donos deste trabalho. Então, é muito importante ajudar quem quer fazer a desenvolver algo sério, porque ele é muito recente ainda. Mas é, com certeza, uma profissão de futuro”.
Alegria contagiante
A associação conta hoje com 50 palhaços e já realizou mais de um milhão de visitas a crianças hospitalizadas, seus acompanhantes e profissionais de saúde. No entanto, por causa do Palhaços em Rede, hoje existem mais de um mil grupos cadastrados por todo o Brasil. “Em nenhum outro lugar do mundo tem um fenômeno igual. Inclusive existe um estudo feito por uma universidade em Portugal a respeito desse impacto e com o objetivo de fazer um mapeamento, que revelou que o número de questionários respondidos por brasileiros é de longe o maior. É um orgulho porque o Brasil é um país de dimensão continental, tem muito hospital e crianças internadas, e precisa de atendimento com qualidade e formação. Não é sobre ser bonzinho, mas sim eficiente e profissional, mesmo sendo um voluntário”.
Humor é contagiante, mesmo quando a criança é submetida diariamente a uma enorme carga negativa no ambiente hospitalar. O ingrediente, segundo ele, é simples. “Mais do que no humor, eu penso muito no que me traz alegria. Porque a alegria é resultante de um estado de bem-estar. No hospital, o que eu aprendi: por pior que seja uma crise que pode até paralisar o corpo, eu não vou negar o problema, mas eu vou buscar uma conexão com o que está bom.
Penso no que está dando certo e é muito incrível o que pode acontecer quando a gente faz esta conexão. Começam a aparecer possibilidades e perspectivas, onde não parecia existir alternativas. O que é mais importante nestes anos de trabalho é perceber que levar alegria aos hospitais impacta na minha vida pessoal. O meu trabalho exige que eu saia da minha zona de conforto e veja o meu potencial. Este é meu norte”.
Serviço
Workshop Palhaços em Hospitais: Um olhar para o Futuro, com o fundador dos Doutores da Alegria, neste sábado, 4, às 9h, no hospital Bezerra de Menezes. O ingresso custa R$ 25. Informações: (17) 99138-7811.
Trabalho inspirador
Wellington Nogueira saiu do Brasil em 1983 para estudar teatro musical em Nova York. Inicialmente, ele iria morar no país durante dois anos, mas teve oportunidades de trabalho e ficou mais tempo. Depois de formado na Academia Americana de Teatro Dramático e Musical, ele sentiu que não estava completo emocionalmente, apesar de ter conquistado tudo o que tinha desejado construir.
Nos Estados Unidos, em 1988, ele conheceu o ator Michael Christensen, fundador do projeto Big Apple Circus Clown Care Unit, programa pioneiro em levar palhaços profissionais especialmente treinados para visitar crianças hospitalizadas. “Ele foi o palhaço que teve a ideia de entrar em um hospital se fazendo passar por médico, brincando com a rotina hospitalar. A experiência foi tão bem sucedida, que a instituição regularizou a intervenção e o trabalho nunca parou”.
Usando técnicas de malabarismo, mágica e música, Nogueira trabalhou com o grupo durante três anos. Em 1991, o especialista em procedimentos como transfusões de milk-shake e transplantes de nariz vermelho voltou ao Brasil porque o pai estava doente e internado em um hospital público. “Percebi que ali era um mundo que precisava ser explorado com o que aprendi nos Estados Unidos”. Nas terras tupiniquins, inspirado na iniciativa norte-americana, ele fundou o Doutores da Alegria.
As primeiras reações dentro da área de saúde foram muitos boas. “Houve uma abertura e uma predisposição. Em vez de ficar batendo na porta oferecendo, eu fiz uma divulgação e os hospitais que estavam mais alinhados me chamavam para conversar. O maior desafio que eu tive foi conseguir investimento para este trabalho, porque o trabalho não era voluntário e o hospital não pagava nada por ele. A gente precisava de recursos para manter e treinar os profissionais para criar novidades. Os primeiros três e quatros anos foram difíceis. Mas, hoje, com a experiência adquirida, eu entendo que toda novidade precisa de tempo para maturar”.
Neste ano, o Doutores da Alegria completou 27 anos de fundação. Nogueira afirma que nessas quase três décadas viveu muitos momentos tocantes. Um deles foi em 2015. Após promover uma palestra em Campinas, ele foi abordado por um senhor bastante emocionado, que mostrou a foto do filho caracterizado de doutor da alegria. Ele revelou que o jovem estava estudando Medicina e logo se tornaria um oncologista infantil, após ter tido um câncer. Nogueira descobriu que o jovem foi visitado pelos Doutores da Alegria quando estava em tratamento, entre 1999 e 2000, e eles o inspiraram na sua escolha profissional. “O pai disse que o trabalho dos palhaços, junto com os médicos, foi fundamental para a sua recuperação”.
Representante do Doutores da Alegria, Nogueira não está atuando, no momento, como o besteirologista Doutor Zinho. Agora, ele está afastado por lei das funções porque é pré-candidato a deputado federal por São Paulo em 2018 pela Rede Sustentabilidade.
Fonte: Diário da Região 03/08/2018 : Por Francine Moreno
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